domingo, 28 de março de 2010

As aventuras de Alfa & Beto - Emília, a esperta


"Essa toda discussão não sei que por, curiosas crianças são, po - prrro - probeee - probema - probrema - probilema - problema não causar podem". As palavras de Emília nasciam caóticas, ela não conseguia ordenar sua fala, mas era entendida. "Por que você diz que as crianças não podem nos causar problemas, Emília?" - perguntou Narizinho. "Crianças essas de história gostam, aqui vieram pirlimpim pó, mal não fazer não vão, elas querem só mundo fantasia conhecer". Alfa mal podia acreditar que a boneca defendia ela e o irmão. "Isso, é isso mesmo, nós fomos até a livraria para ler e quando tentamos limpar a poeira dos livros, bem, de um livro bem velho e grosso que estava no depósito..." "É o meu livro Reinações de Narizinho." - disse Narizinho, toda orgulhosa, mas Emília não deixou por menos: "Não é o seu livro, nem mesmo do Monteiro Lobato, que escreveu; o livro é de todas as pessoas que gostam de ler, e digo mais, se as pessoas pararem de ler nossa história, sabe o que vai acontecer com a gente? Hein, hein? Vamos morrer, isso, isso mesmo, ainda estamos aqui porque tem gente, como essas crianças, que ainda lê as nossas aventuras." Quando Emília parou de falar, percebeu que todos ali presentes estavam de olhos arregalados, admirados com a sua inteligência. Narizinho, surpresa com a esperteza de sua boneca, quebrou o silêncio: "Emíla, agora você está falando certo, sem trocar as bolas, quer dizer, as palavras!" "Mas é claro que estou falando certo, eu sempre faço tudo certo!" "Ah, pera aí, Emília, você acabou de começar a falar e já tá metida desse jeito"...

Bem, nem preciso dizer que a discussão entre a boneca e sua dona demorou alguns minutos e que todos entraram na briga. Doutor Caramujo reclamava as pílulas a mais que Emília engoliu, Dona Carochinha queria esganar a boneca, e Narizinho brigava com as duas, pois, com Emília, só ela, a dona, podia brigar. O Príncipe Escamado chamou o segurança Peixe Espada para acalmar a confusão, mas, nada, cada um falava mais alto que o outro, até que um grito bem agudo e choroso assustou os briguentos. Era Beto: "Eu quero sair daqui, quero voltar pra minha casa!" Alfa abraçou o irmão e Emília falou: "Calma, menininho, eu tenho a solução do seu problema. Quando vocês chegaram perto de nós na margem do ribeirão, caiu um pouco do pó de pirlimpimpim no meu vestido e foi parar no bolso. Tome aqui e veja se você e sua irmã conseguem voltar para casa."

A viagem de volta foi mais turbulenta porque tinha pouquinho pó. Quase que os irmãos foram parar lá nas terras das mil e uma noites. Ufa! Foi por pouco, muito pouco! Bem seguros de volta, no chão empoeirado do depósito da livraria, Alfa e Beto se olhavam espantados. Nossa, que leitura radical!